“ANDANÇA”: BETH CARVALHO POR ELA MESMA.

Por Celso Sabadin.

Praticamente todo mundo conhece a cantora, compositora e instrumentista Beth Carvalho, um dos maiores nomes do samba e do pagode brasileiros. Mas acredito que poucos conheciam a Beth Carvalho cineasta…  Bom, tudo bem, exagerei. Talvez não “cineasta”, mas dá para falar sobre Beth Carvalho operadora de câmera, talvez documentarista.

Isto porque o documentário “Andança”, estreando esta semana nos cinemas, revela esta faceta desconhecida da cantora: seu hábito de documentar, em vídeo doméstico, os mais diferentes episódios de sua vida profissional e pessoal, incluindo ensaios, gravações, encontros com demais compositores, festas e – claro – muitas rodas de pagode. No próprio documentário ela se confessa apaixonada, quase obcecada, por documentação, chegando a guardar todos os vestidos utilizados em seus shows.

Isto faz de “Andança” uma verdadeira preciosidade. No total,  800 VHS, super-8, mini-dv, k7 e fotos foram limpos e redigitalizados, somando cerca de 2 mil horas de memórias em formato de vídeo que tiveram de “caber” em um longa-metragem de duas horas. Há o registro (este só em áudio), por exemplo, de Cartola apresentando a Beth duas de suas canções até então inéditas: nada menos que “O Mundo é um Moinho” (ainda sem a letra definitiva) e “As Rosas Não Falam”.

Provando que nem tudo são flores na vida artística, há também cenas mais tensas, como a de uma discussão durante a gravação de um disco. É o verdadeiro Cinema Verdade.

O filme também aborda o lado político e militante de Beth – criada na zona sul do Rio de Janeiro em uma família de classe média – e de como ela não conseguiu se adaptar à elitização do grupo criador da Bossa Nova, optando por desenvolver sua carreira junto a expressões mais populares da nossa música.

Assim, tomando como suas principais referências Clementina de Jesus e Elizeth Cardoso – cantoras para quem dedicou seu primeiro álbum de samba (“Canto Por um Novo Dia”) – Beth se entregou aos ritmos da periferia, mudando o curso de sua carreira e até do futuro de todo um gênero musical.

Nelson Cavaquinho, Cartola, Almir Guineto, Jorge Aragão, Zeca Pagodinho, Arlindo Cruz, Luiz Carlos da Vila, entre outros tantos nomes gigantes das raízes musicais brasileiras marcam presença no filme, sempre enfocados pela própria câmera da biografada. Biografada que, neste caso, também se torna biógrafa, fazendo de “Andança” um longa diferenciado e muito especial dentro deste maravilhoso universo de documentários musicais que – felizmente – temos no país.

“Quem escreveu esse filme foi a própria Beth Carvalho”, afirma  Leonardo Bruno, que divide o roteiro com Pedro Bronz, diretor e idealizador do projeto. Com o subtítulo de “Os Encontros e as Memórias de Beth Carvalho”, “Andança” estreia nos cinemas do Brasil nesta quinta-feira, 02/02.